Ando me aproximando tanto de mim, ando me aproximando tanto do outro, que acabei me afastando da tecla. Esqueci do branco que desafia e da tela que busca letras para preencher o vazio. Mas, não esqueci da minha tela, que está sendo preenchida e vem ganhando cor, como os quadros de Matisse.
Pinceladas de Matisse confundem a cor com o objeto. Uma união bem feita, com a luz certa, onde a mistura perfeita faz a arte acontecer. Assim como as cores, também ando me misturando em mim, no outro, na cidade e nos meus sentimentos, como ovos mexidos.
Me misturando por São Paulo olho para ela e seus prédios altos, e me pergunto sobre o poder que essa cidade tem sobre nós - ao mesmo tempo que nos dá alegrias, também as tira de nós -Ela mexe com nossos sentimentos. Recentemente os mares daqui ficaram revoltos e então ficou tudo mais difícil de se entender. Agora tudo acalmou e a cidade voltou ao normal, sem mares revoltos. Sem mares calmos. Só concreto. Se for para ser assim, como está, que aqui seja só cimento, sem água pra rolar, sem lágrimas para cair.
A cidade é toda quadrada, com linhas retas e firmes que formam blocos de confinar gente, mas nem toda construção aqui tem que ser assim. Hoje vi cimento sendo trocado por vidro, paredes firmes cairam para dar espaço e não confinar os presentes e a linha reta deu espaço para um novo traçado. Da janela entra muita luz e de lá se vê no máximo a grande vista da Paulista, pois por mais que se tente, as construções daqui não serão sinuosas o suficiente como o calçadão de copacabana e tão pouco a vista será a de Ipanema. Quanto aos mares, definitivamente não são os mesmo de lá. Ainda assim, venho gostando da cinza cidade de São Paulo e dos azuis que vejo aqui.
