quinta-feira, 21 de maio de 2009

Desatando os nós. Desatando nós.


Engoli a seco meus medos e anseios
Desembarquei em busca de nós
O cachecol enrolado ao seu pescoço

As mãos sem saber aonde apoiar
E o espaço que se anunciava entre nós

A nova vista se revelou
O Cristo ao longe
Mares que separavam e ligavam
Sagre gelada
Sol quente no rosto

O espaço diminuiu
As mãos se encontraram
A intimidade presente

E lá fomos nós, juntos, em busca de aventura
Descobrindo povos
Descobrindo sabores
Descobrindo cores
Nos recolhendo nas varandas
Varandas que ficavam para dentro

Jantar na casa de novos amigos
Resultado de eleição
A cerveja quente
E o cuzcuz na mão

Elas se escondiam por detrás dos véus
Você se escondeu, mas te surpreendi

Sua solidão nos pegou
Sua solidão nos afastou

Hoje em ti já não penso
Não como antes. Se transformou
Escrevo porque o antigo zerou
Coloco aqui por extenso
Para não deixar dentro de mim o que me magoou

Espero que a solidão de agora não seja maior que a de outrora
Que o polvo cheio de braços encontre o abraço
Que o menino pelado na cama cresça seguro
E saia debaixo da mesa

Desenrole o cachecol
Afaste a vaidade
Se aproxime

De você

domingo, 17 de maio de 2009

Já não me lembro




O cursor pisca e chama a minha atenção
Me convida para o branco
Quadro que me desafia

E s p a ç o
Roubo de ti

Cadê o som das teclas?
Mute.
Faço silêncio.
Fico em Silêncio.

A luz fria da tela ilumina meu rosto no quarto escuro

Qual a letra?
Por qual motivo?
Já não me lembro.
Enter em
Alice

Volto a ti para tentar não esquecer.
Já não me lembro.
Memória facultativa?
Não sei.

Mas agora a borboleta é só uma borboleta desarmando a tenda.

Na estrada


Noite na rodoviária.
Malas por toda parte.
O barulho vem de fora.

O barulho vem de dentro.
Durmo assim. Presa na estação.
Na Estrada 5 horas.
40 minutos de avião.
Abaixo da janela estão as malas. Cheias
Na entrada do quarto está o armário. Vazio.
Preguiça ou falta de coragem?
Já iniciei.
Estou ocupando o espaço. Estou colorindo a cama.
Tudo o que antes parecia vazio e sem cor, vai se preenchendo.

Eu também.

terça-feira, 5 de maio de 2009

COMUNICAÇÃO





+ + = +
- - = +
+ - = -
- + = -

Sinais Trocados = Resultado Negativo. Nessas horas queria ser mais EXATA. Nem + nem -

30

E
D
A
D

G x I
R
A
V
I
D
A
D
E

Chega um momento em que percemos claramente o movimento da vida.
A idade te puxa pra cima, e a gravidade te puxa para baixo.
E você ali no meio dessa briga de sentidos contrário.
Bem vinda ao 30.

Somos todos mentirosos?


Li um texto, certamente escrito por um homem, afirmando que sim. Falava das mentiras que os homens contam e das justificativas que as mulheres dão.

A brincadeira neste mundo de enganação acontece mais ou menos assim: homens criativos na elaboração; mulheres fazendo sim, mas docemente dizendo que não. Ou seria ao contrário?

O texto começava falando da criança que não fez o dever de casa. Uma análise do comportamento do menino e da menina diante da mesma situação - o garotinho inventa uma grande aventura do cão mordedor; a menina se justifica, dizendo que não acabou.

E desde muito cedo, já podemos perceber neles a aptidão para aventuras. A diferença estaria na brincadeira? Enquanto brincamos de boneca, eles assistem às aventuras do mestre pimpão. E nós, com as barbies, já aprendemos o poder do salto alto numa noite de azaração.

O texto leve e divertido, terminava pedindo que não negássemos para nós mesmos quem realmente somos. Para mim, a melhor frase do texto. Seja lá o que venha após os dois pontos.

Falta coragem para assumirmos o que vem após os dois pontos. Vejo muitas pessoas que acreditam na identidade que criaram para enfrentar este mundo de ilusão. Celebridades simulam felicidade nas capas de revistas e anônimos se expõem em sites de relação. Orkut e Patricia Kogout - Acho que entendo a conexão.

Sejamos mentiroso ou não. Gays ou não. Bons ou não. Mas, não nos enganemos, como disse o autor.

Para mim, se for para fingir, que seja para transformar a realidade em poema, que seja o fingimento poético para resultar em arte, como na autopsicografia de Pessoa.

Texto de Nikolaia. Jovem polonesa virgem. Voluntária do exército da salvação.

Confissão: Raramente uso salto alto, mas uso. Assumo meus cachos no dia a dia, mas faço escova nos cabelos para algumas ocasiões. Achava que era só artifício, mas hoje vejo que é simulação. Não posso passar um dia sem corretivo no olho. Quanta enganação! Pobre dos meninos, nós tínhamos a Barbie e eles o cão.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Deixando as Grades

Era gostoso, silencioso e seguro, mas mesmo assim eu quis sair. E foi em um dia quente, como nas manhãs de verão, que resolvi sair de lá. Interrompi a sua praia, e a mandei para o hospital.
Dia 29 de outubro de 1978, mudamos de lugar. Mas, ela ainda estava lá.

Fomos para casa. Primeiro banho, primeiro sorriso, primeiro choro e primeira mamada. E depois de muitos primeiros, o berço já não me comportava. Eu queria engatinhar. Ela percebeu minha necessidade e me comprou um cercadinho. Ainda era seguro, e eu era observada de lá.

No cercadinho aprendi a engatinhar. E lá também aprenderam sobre mim. Aprenderam que eu pouco chorava, que era quieta e nada falava. Eu era calma ao ponto de se estranhar. “Ela tem problemas” pensavam. E foi um alívio quando comecei a falar.

O tempo, este senhor que insiste em não parar, andou. E eu também. Agora, o cercadinho era pequeno, e ela me tirou de lá.

Andar já era fácil. E então eu quis bagunçar as pernas, dar piruetas e saltos, e me pus a dançar. Apresentações no final do ano. Ela sempre no João Caetano.

Dançar foi um momento. O palco um desafio. Qual era o próximo?! Ficar de ponta a cabeça. E em meio a mantras e incensos, os pés ao vento. Ela viu e achou perigoso, mas não gostava mesmo era do meu envolvimento com o guru mendigo de Copacabana.

Engatinhei. Andei. Dancei. Yoguei. Me faltava voar.

Agora ela acompanha meu vôo de um perto longe, mas sempre perto de onde importa.

Ela confiou em mim e me tirou do cercado. Mas, sinto que de uma certa forma, eu o trouxe comigo; cercado da auto-proteção, que controla minhas palavras e emoções, que me engessa e me faz projetar coisas que não o são. Esse cercado me parecia confortável, mas agora eu também quero sair. Já não caibo mais nele.

Ela cuida de mim de um perto longe. Não me controla e confia. Eu devo fazer o mesmo. Comigo.

Obrigada Mãe. Amo você.
Feliz Dia Antecipado das Mãe. Logo estarei por aí.