segunda-feira, 4 de maio de 2009

Deixando as Grades

Era gostoso, silencioso e seguro, mas mesmo assim eu quis sair. E foi em um dia quente, como nas manhãs de verão, que resolvi sair de lá. Interrompi a sua praia, e a mandei para o hospital.
Dia 29 de outubro de 1978, mudamos de lugar. Mas, ela ainda estava lá.

Fomos para casa. Primeiro banho, primeiro sorriso, primeiro choro e primeira mamada. E depois de muitos primeiros, o berço já não me comportava. Eu queria engatinhar. Ela percebeu minha necessidade e me comprou um cercadinho. Ainda era seguro, e eu era observada de lá.

No cercadinho aprendi a engatinhar. E lá também aprenderam sobre mim. Aprenderam que eu pouco chorava, que era quieta e nada falava. Eu era calma ao ponto de se estranhar. “Ela tem problemas” pensavam. E foi um alívio quando comecei a falar.

O tempo, este senhor que insiste em não parar, andou. E eu também. Agora, o cercadinho era pequeno, e ela me tirou de lá.

Andar já era fácil. E então eu quis bagunçar as pernas, dar piruetas e saltos, e me pus a dançar. Apresentações no final do ano. Ela sempre no João Caetano.

Dançar foi um momento. O palco um desafio. Qual era o próximo?! Ficar de ponta a cabeça. E em meio a mantras e incensos, os pés ao vento. Ela viu e achou perigoso, mas não gostava mesmo era do meu envolvimento com o guru mendigo de Copacabana.

Engatinhei. Andei. Dancei. Yoguei. Me faltava voar.

Agora ela acompanha meu vôo de um perto longe, mas sempre perto de onde importa.

Ela confiou em mim e me tirou do cercado. Mas, sinto que de uma certa forma, eu o trouxe comigo; cercado da auto-proteção, que controla minhas palavras e emoções, que me engessa e me faz projetar coisas que não o são. Esse cercado me parecia confortável, mas agora eu também quero sair. Já não caibo mais nele.

Ela cuida de mim de um perto longe. Não me controla e confia. Eu devo fazer o mesmo. Comigo.

Obrigada Mãe. Amo você.
Feliz Dia Antecipado das Mãe. Logo estarei por aí.

Um comentário: